James Freeman Clarke.
Depois de S. António do Zaire, onde alguns de nos estivemos destacados um mês, depois do “paraíso” de Ambrizete, depois do “inferno” de Nambuangongo eis-nos agora no “purgatório” de Pereira d’Eça. Aqui expiaríamos os últimos “pecados”.
As montanhas dos Dembos sucediam as planícies sem fim; à floresta quase virgem, sucedia uma paisagem quase nua como se o deserto da Namíbia quisesse colonizar o Cunene; à terra que produzia café, sucedia um solo árido que associado a um clima seco pontuado por violentas inundações era pouco pródigo em produção agrícola.
Nas nossas digressões pela zona encontrávamos alguns campos de massango, (painço) que depois de esmagado num buraco feito num pedaço de madeira, era utilizado para confeccionar o tradicional funge, alimentação de base da população local.
Zona mais propicia para o pastoreio, encontrávamos muitos caprinos e suínos, mais raros eram os bovinos. Paradoxalmente as cheias “punham” à disposição da população certa quantidade de peixe que segundo nos disseram provinha do rio Cunene que distava de noventa quilómetros, mas a origem podia ser outra. Diga-me Sra. Prof., é verdade que os ovos dos peixes podem sobreviver enterrados na areia e eclodir ao contacto da agua? Olhe que eu não sabia.
De onde em onde havia pequenos lagos artificiais que tinham o dom de reter alguma agua das cheias e que depois constituíam uma reserva para que o gado não sofresse tanto os efeitos da época seca. Nos efectuávamos patrulhas de dois dias no âmbito de certa acção psicológica; íamos ao encontro das populações isoladas no interior da savana.
“Navegando” para Sul, “descobrimos” a linha recta mais longa de toda a África, (assim me contaram) ou seja a fronteira com a Namíbia. Constava então, que quando a fronteira foi implantada cortou ao meio a etnia Cuanhama. A partir de então entenderam os Cuanhamas da Namíbia reivindicar o território ocupado pelos “irmãos” Angolanos e vice-versa. Coube a “iniciativa” aos da Namíbia, que um dia derrubaram a irrisória fronteira existente, como se quisessem ocupar o distrito do Cunene. Seguiu-se um protesto de Portugal na O.N.U. que obrigou os Ingleses a “reconstrui-la”, dai a imponente barreira de arame farpado.
Permaneceríamos por aqui nove meses, porque no fim do tempo regulamentar, fomos presenteados com um prolongamento de quatro meses o que totalizaria vinte e oito períodos de 30 dias em terras de Angola.
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