É FILHO DE BOA GENTE!A l'attention de mes lecteurs :

GUERRA COLONIAL EM ANGOLA. DO ZAIRE AU CUNENE, PASSANDO PELOS DEMBOS.
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OBRIGADO PELA SUA VISITA.

QUEM NAO SE SENTE, NAO É FILHO DE BOA GENTE!


Se servistes a Patria que vos foi ingrata, vos fizestes o que devieis, e ela o que costuma.
Padre Antonio Vieira.

A nação é de todos. a nação tem de ser igual para todos. Se nao é igual para todos, é que os dirigentes que se chamam Estado, se tornaram quadrilha.
Aquilino Ribeiro. In quando os lobos uivam.

"patria", confiscaste-me os meus melhores três anos. Diz-me agora o que posso confiscar-te.

samedi 7 janvier 2012

UMA HOMENAGEM ADIADA


Filho de pai incógnito  e da Fany, nasceu um dia em Nambuangongo um lindo cão de pelo amarelo, entroncado de tal forma que fazia lembrar um bezerro charolês . deram-lhe o nome de um grande poeta português, mas para não insultar a memoria do poeta, chamar-lhe-ia simplesmente “C”, ou se os meus colegas das transmissões me permitem, “Charlie”.
O tempo passou, o cão foi crescendo, o Batalhão que estava na zona foi transferido e a CCS que lhe dava guarida levou-o consigo para Ambrizete.
Ai o encontramos nos quando chegamos em Janeiro de 1972  e como o ele punha um ponto de honra em acompanhar o Pelotão da Companhia nas suas saídas também nos decidimos aceder ao seu pedido sempre que ele nos pedia boleia.
Antes que ficássemos enjoados de marisco e de praia, foi-nos proposta uma viagem até à região do café. Não iríamos até Carmona, capital do precioso néctar, ficaríamos aproximadamente a meio do caminho. Nambuangongo, ta bem? Nambu. Caro a Manuel Alegre.                
               
                        Em Nambuangongo, olhei a morte e fiquei nu
                      Em Nambu. a gente lembra, a gente esquece
               Tu não sabes, mas eu digo-te: dói muito
        Em Nambu. ha gente que apodrece.
                                           
                                                      M.A.(?)

Mas era do cão que  a gente falava, evidentemente. Um cão nascido na mata, não podia nem devia ficar em Ambrizete; corria o risco de perder-se na vila, ser atropelado por um automóvel, quem sabe  cair ao mar. Não, o nosso Charlie voltaria à terra dos seus antepassados, e no dia aprazado, em companhia de outros “cães,” “embarcaríamos” rumo à capital dos Dembos.
Sob o sol que o viu nascer,  começou  por adoptar uma postura de chefe, ou príncipe. Instalado entre a caserna do pel-rec e a dos escriturários, não admitia que qualquer cão penetrasse nos “seus” domínios e como dominava o flanco Sul da colina, parecia dizer: estejam descansados, se o capitão subir, eu aviso.
Começaram entretanto os anos a pesar-lhe sobre os ombros, e o reumatismo a “corroer-lhe”os ossos, e, manquejando entre o seu “posto de observação” e o refeitório, escrutava o  além convencido talvez que mais ninguém o levaria para longes terras. Antevendo o fim a aproximar-se, decidiu passar as noites do lado oposto, talvez a fim de saudar os colegas da Madureira, quem sabe respirar o ar do Canacassala, e um dia não mais acordou. Certa manha,  o sentinela do posto Norte, esfregou os olhos ao ver aquela “mancha” amarela no tapete verde do capim, e apenas pode constatar que o nosso CHARLIE mergulhara  num sono eterno. Não houve alaridos, não tocaram os sinos. Naquela guerra, mesmo quando morriam os homens, havia  certo “pudor” não sei se havia censura a cobrir os factos.
Pensei estas linhas, também a fim de  que os veteranos do B. Art. 2900 saibam que o Cão deles que também foi nosso, regressou  à sua  Terra Natal onde morreu e foi sepultado.
(Requiesca in pace) Os cães, esses não faziam mal a ninguém.

António S. Leitão.

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