Quarenta anos mais tarde
Se te encontrasse por acaso
Numa rua da cidade de Viseu
Ficava parado, e olhava-te sorrindo (?)
Talvez te dissesse apenas: sou eu!
Nao te dava o meu numero de telefone
Nao te convidava para o almoço
Nao sei qual seria a minha reacção
Pelo tempo fora, continuaríamos "amigos"
E cantaria tanta vez esta canção: Estou farto deles!...
Quem passou pelo R.I.-14, mais precisamente pela terceira Companhia, nao esqueceu certamente o coberto sob o qual recebíamos os primeiros ensinamentos em matéria de instrução militar. Ai estávamos nos, certo dia de Maio de 1971, quando se aproximou do nosso Pelotão o Com. de outro grupo queixando-se ao nosso Alferes: " Eh pa, estou cheio de sede!"
Vendo o estado do seu colega, o nosso chefe dirigiu-se a mim nestes termos:" O jovem vai buscar agua para o nosso Aspirante".
Comecei por perguntar onde , depressa vi que nao era o lugar nem a hora para "parlamentar". corri na direcção da cantina, mas estando esta fechada e conhecendo ainda mal a topografia do quartel, voltei para o Pelotão dizendo ao Alferes que nao tinha encontrado agua.
"Paga"! - respondeu o homem.
Pagar significava atirar-se ao chão e fazer determinado numero de flexões.
Tentei argumentar, mas era tempo perdido.
"Paga dez, vinte."
"Mas o meu Alferes..."
"Paga 30, 40."
"Meu Alferes, mas..."
"Paga 50, 60."
Quando vi que a "factura" começava a ser pesada, cumpri a sentença, e levantando-me informei o meu superior que tinha "pago".
Nao sei se ria, certo é que nao chorava, mas entendeu ele que sorria, e decretou:
"Paga mais 10."
" Nao posso mais",- dizia eu.
"Paga mais 20, 30.
Nao havia nada a fazer; "pagar" , como se dizia.
Por fim, teve a petulância de declarar: "olha que eu sou cinico, sabes".
O tipo era sadico, como tantos naquele tempo.
Antonio S. Leitao.
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