É FILHO DE BOA GENTE!A l'attention de mes lecteurs :

GUERRA COLONIAL EM ANGOLA. DO ZAIRE AU CUNENE, PASSANDO PELOS DEMBOS.
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OBRIGADO PELA SUA VISITA.

QUEM NAO SE SENTE, NAO É FILHO DE BOA GENTE!


Se servistes a Patria que vos foi ingrata, vos fizestes o que devieis, e ela o que costuma.
Padre Antonio Vieira.

A nação é de todos. a nação tem de ser igual para todos. Se nao é igual para todos, é que os dirigentes que se chamam Estado, se tornaram quadrilha.
Aquilino Ribeiro. In quando os lobos uivam.

"patria", confiscaste-me os meus melhores três anos. Diz-me agora o que posso confiscar-te.

mercredi 21 décembre 2011

VER MORRER EM NAMBUANGONGO

Na noite escura, um estrondo. Inútil consultar o calendario a fim de saber qual a localidade que estava em festa, ou quem deitava foguetes. Nao; nao havia lugar nem tempo em Nambuangongo para festas ou romarias. Aguardamos as primeiras informações e estas nao tardaram: A escassas dezenas de quilómetros, uma Fazenda estava sob fogo inimigo.
Creio que nao era costume a infantaria ir ajudar os "vizinhos durante a noite; se a artilharia o pudesse fazer, tanto melhor. Continuamos na expectativa; foi entao  que irrompeu no nosso reduto um Land-Rover. Aos solavancos pela picada, um dos membros da guarnição que protegia a Roça, fez o trajecto até ao nosso quartel com um ferido na carroçaria, na esperança que o nosso médico o pudesse salvar.
Com alguns colegas fui até à enfermaria. Estendido numa cama, ainda com os olhos abertos, jazia um corpulento homem de cor. O ventre aberto expunha um monte de  vísceras. E indescritível o que se sente em tais circunstancias. O médico tacteava-lhe o que restava intacto da barriga, enquanto o Comandante do meu Pelotão, observava num tom que mais parecia uma suplica: estes tipos sao muito resistentes, ao que o médico respondia com um lacónico "nao".
Esgotavam-se as esperanças. Ja o enfermeiro de serviço lhe aplicava uma injecção, talvez a fim de que o nosso homem, sofresse o menos possível. Quando se  entrava na antecâmara da morte, o "prémio" era uma injecção de morfina. 
Nas palavras do meu Chefe de Pelotão, entrevi o deseje de que algo de "impossível" fosse tentado, mas era já tarde.
Tive vontade de pegar na arma, correr para a mata e gritar: saltai para aqui, filhos da p. que eu f. os c. nao havia nada a fazer; esperar secretamente que na noite seguinte, nao fosse a nossa vez e já era bastante.
Em Nambuangongo acontecia os "vizinhos"virem pedir caixões para os seus mortos; daquela vez, nao vieram.

Antonio S. Leitão.

1 commentaire:

  1. Muito bem relatado, descrição que nos transporta a um tempo,que teimava em não passar.

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