02 de Janeiro de 1972.
Era um Domingo como os outros. Mais frio e cinzento, normal para o Inverno. Depois de introduzir numa pequena mala, os meus parcos haveres saio pela porta do lado Norte, porque era esta que dava para a estrada nacional. Depois de atravessar o pátio que daquele lado era mais pequeno encosto-me à ombreira do portão e ai aguardo a chegada de um autocarro da União de Sátão mais pequeno que os outros, porque só fazia a ligação Sátão Aguiar da Beira. Chamavam-lhe a carreira das três . Instantes mais tarde, uma apitadela na ultima curva , avisar-me-ia que tinha soado a hora.
A bordo do Vera Cruz 10/01/1972. |
Abro e acto continuo fecho a porta traseira. .Quando pus o pé no estribo ainda « consegui » dizer Adeus pessoal às pessoas que então vieram à porta. Quando o autocarro arrancou, vi que o meu irmão Fernando chorava.
Primeira etapa, Sátão, segunda etapa Viseu ; comboios diversos levar-me-iam até um ponto situado no meio de « nulle part » chamado Santa-Margarida.
Desta vez era a sério, não havia margem para duvidas : brevemente receberíamos os camuflados e embarcaríamos rumo a Angola.
Nove dias depois, pudemos dizer: terra, terra!
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Chegou o dia « D » e na hora « H » fomos introduzidos nas entranhas do majestoso transatlântico que dava pelo nome de Vera Cruz.
Depois de uma travessia de nove dias, pudemos de novo dizer : terra, terra, mas tínhamos mudado de continente : Estávamos na ‘África dos elefantes e das girafas. Apos o desembarque, esperava-nos um comboio que geralmente tem bancos, mas as fabulosas riquezas Angolanas pelas quais nos estávamos prontos a dar a vida, não chegavam para por bancos no « nosso » comboio, e como gado, « embarcamos » em vagões que nos levariam até um loteamento de barracões de cimento situado no meio de um grande areal. Não vão pensar que era a praia, tal como o comboio, também as “casernas” davam a impressão terem sido concebidas para acolher animais.
A entrada de cada barracão, havia de cada lado uma placa de
cimento e em cima destas uma fila de colchões ascorosos repletos de um pó amarelado que talvez dez anos antes tivesse sido palha.
Ficávamos por lá alguns dias; vinham seguidamente grandes camiões equipados de altas cancelas,(cuidado não fosse a mercadoria suicidar-se), e então como dizia o poeta, lá íamos nos, de Luanda para o Norte.