Por Manuel Alegre.
Em Nambuangongo tu não viste nada
Não viste nada nesse dia longo longo
A cabeça cortada
E a flor bombardeada
Não tu não viste nada em Nambuangongo.
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
Em cada homem um porto que não morre
Sim, nos sabemos que Hiroxima é triste
Mas ouve, em Nambuangongo existe
Em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
Em Nambuangongo, a gente lembra a gente
esquece
Em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu.
Tu não sabes, mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Cada carta é um Adeus em cada carta se morre
Cada carta é um silêncio, uma revolta.
Em Lisboa na mesma, isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu
nada sabes deste tempo longo longo
Tempo exactamente em cima
Do nosso tempo. Ai tempo onde a palavra vida rima
Com a palavra morte em Nambuangongo.
PS. Que o autor me
deixe desabafar antes que morra. Quanto àqueles que me “novedoislilixaram”, se lá
tivessem passado uns meses, agiriam de outra forma.