É FILHO DE BOA GENTE!A l'attention de mes lecteurs :

GUERRA COLONIAL EM ANGOLA. DO ZAIRE AU CUNENE, PASSANDO PELOS DEMBOS.
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OBRIGADO PELA SUA VISITA.

QUEM NAO SE SENTE, NAO É FILHO DE BOA GENTE!


Se servistes a Patria que vos foi ingrata, vos fizestes o que devieis, e ela o que costuma.
Padre Antonio Vieira.

A nação é de todos. a nação tem de ser igual para todos. Se nao é igual para todos, é que os dirigentes que se chamam Estado, se tornaram quadrilha.
Aquilino Ribeiro. In quando os lobos uivam.

"patria", confiscaste-me os meus melhores três anos. Diz-me agora o que posso confiscar-te.

mardi 3 décembre 2013

SERMAO DE SANTO ANTONIO AOS PEIXES PELO PADRE ANTONIO VIEIRA; (Excertos).


“Vos”, diz Cristo nosso Senhor, ao falar com os pregadores, “ sois o sal da terra”. E chama-lhes sal da terra, porque quer que eles façam na terra , o mesmo que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como esta a nossa, havendo tantos nela que têm o oficio de sal, qual será ou qual pode ser a causa dessa corrupção? Ou é, porque o sal não salga, ou porque a terra não se deixa salgar. Ou é, porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra não se deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, não a querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra não se deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, em vez de o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores pregam-se a si  e não a Cristo; ou porque a terra não se deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem os seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.
Suposto, pois, que,  ou o sal não salgue ou a terra não se deixe salgar, que se há-de fazer ao sal que não salga?
Cristo disse-o: Quod si sal  evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisti ut mittatur  foras et  conculcetur ab hominibus. (Mateus V- 13). Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe  há-de fazer é lança-lo fora como inútil, para que seja pisado por todos. Quem se atrevera a dizer tal coisa se mesmo Cristo não a pronunciara? Assim com não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça, que o pregador que ensina e faz o que deve; assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés o que com a palavra ou com a vida prega o contrario.
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que não se deixa  salgar, que se lhe há-de fazer?
Este ponto não o resolveu Cristo no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução  do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda(*) e gloriosa resolução que nenhum santo tomou.


(Pregado em São Luís  do Maranhão, a 13 de Junho de 1654, três dias antes de embarcar secretamente par a Portugal (a fim de interceder em favor dos indígenas). Revela fina ironia, riqueza nas sugestões alegóricas  e agudo senso de observação sobre os vícios e vaidade do Homem, comparando-o através de alegorias, aos peixes.
Critica a prepotência dos grandes que, como peixes, vivem do sacrifício de muitos pequenos, os quais “engolem” e “devoram”.  O alvo são os colonos do Maranhão, que Brasil são grandes, mas em Portugal  “ acham outros maiores que os comam, também a eles.”
Censura os soberbos (=rocandores), os pregadores (=parasitas); os ambiciosos(=voadores; os hipócritas e traidores (=polvos.”
“O polvo com aquele seu cabelo na cabeça, , parece um monge; com aqueles seus ralos estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo dessa aparência tão modesta ou dessa hipocrisia tão santa, testemunham constantemente (...) que o dito polvo é o maior traidor do mar.

jeudi 14 novembre 2013

SALAZAR É QUE ESTA A DAR



O homem não bebia, não fumava e era bem apessoado. Penteado de risco ao lado, gravata, um perfil adunco disfarçado pelas sombras do olhar, entre o manhoso e o matreiro, o sagaz e o perspicaz. Manhoso é matreiro e sagaz é perspicaz. Apliquem-se adjectivos de significado único e finjam-se distintos e múltiplos, foi esse o truque de Salazar. Havia um Parlamento, era dele, era um Parlamento. Havia eleições, eram dele, eram eleições. No tempo dele não havia escândalo nem corrupção porque não havia quem os denunciasse nem imprensa que os publicasse, a PIDE e a Censura vigiavam, e o salazarismo passou como um período ideal, autoritariamente ideal, em que os homens políticos eram limpos e defendiam o império, governavam e não se governavam. E aquilo dos Ballets Rose murmurou-se nos corredores e salões como uma anedota distante, tão distante como África e as histórias das mulheres dos sobas ou as lendas das cabeças empaladas dos pretos. Os canibais andavam por aí, nas casas grandes e sanzalas do Restelo, do Estoril, de Sintra, dos lugares chiques onde moravam os ricos e poderosos. E Portugal era grande, assente sobre um povo escravo e analfabeto, trémulo e rapado. Sem ofensa. Um Portugal construído sobre pilares de medo em que se temia tudo, o padre que arrecadava confissões e adultérios, o marido que batia na mulher, o vizinho do lado que era pide, o colega de escola que batia nos outros e carteava um trunfo de pai-ministro, o polícia que usava a farda para comprar fiado. E como todos eram muito pobres, comprava-se açúcar amarelo a prestações, e Omo, e marmelada, e iogurte, e bolachas torradas, luxos. A taberna não fiava. No país das meias-tintas calçávamos meias-solas fiadas no sapateiro, e a vida era vivida a prestações e cobrada aos fins de mês, a data histórica do ano. Ao-fim-do-mês-pago, e as criadas contavam das patroas que dormiam com os credores para adoçar a dívida, uma prostituição muito consentida visto que as mulheres, naquele tempo, ou eram mães ou eram putas. As que não casavam era freiras ou madrinhas-de-guerra. As do regime eram do Movimento Nacional Feminino, instituição de caridade montada com laca de cabelo. As mães mandavam os meninos para a guerra nas colónias em barcos imensos e recebiam cabogramas anunciando a morte. Mais as lágrimas do Natal do Soldado que eram espectáculo de televisão. Para as minhas mulheres, mães, madrinhas, noivas e demais família um Natal muito feliz e com muitas propriedades. Os mais letrados riam-se muito dos soldadinhos de chumbo, broncos que nem sabiam soletrar prosperidades. O povinho era assim e não se lhe podia dar o voto, acabaria por estragá-lo, Deus e o Cardeal Cerejeira nos livrem. Os valentes soldados Silvas nunca mandavam propriedades para as filhas porque não tinham chegado a tê-las, rapazes de mama atirados para o mato com uma espingarda nas mãos por amor à pátria. A pátria devolvia o cadáver. Os que morreram nem chegaram a saber por que tinham morrido. E os que não morreram e ficaram sem olhos, sem mãos, sem pernas, sem juízo, nunca chegaram a ser lembrados pela pátria madrasta. As mães e viúvas de negro choravam nas campas dos cemitérios de aldeia, os homens tiravam respeitosamente o chapéu, e depois tudo se sepultava no esquecimento. Os filhos dos ricos e dos poderosos eram "dispensados" da tropa, e os filhos da burguesia fugiam para os cafés de Paris e o "estrangeiro". O fascismo nunca existiu. Alguns deles, alguns, foram dar com o rabo sentado na selva e começaram a perguntar: que faço eu aqui? Alguns deles tiveram a coragem de fazer uma revolução. Salazar morreu no conforto da cama e da manta e da governanta antes de constatar a heresia do 25 de Abril e o cheiro dos cravos. Os herdeiros foram para o Brasil dar aulas na universidade e os pides foram recuperados para a sociedade porque somos assim, um país de brandos costumes onde nunca há mortos e feridos e ninguém há-de escapar. A guerra de África? Aquilo era lá longe, e não havia televisão, nem fotografias, nem relatos dos massacres. Nem liberdade. E Salazar é que sabia, Salazar é que mandava. Nas escolas, nós, servos descendentes de reis e heróis do mar, de padeiras e assassinos, de sonhadores e magos, nós Pessoas geniais iguais umas às outras, gritávamos obedientes, Salazar, Salazar, Salazar! De mãozinha esticada. Aquilo fazia lembrar Hitler e a II Guerra de que o chefe nos tinha defendido, a honra de não ter combatido o nazismo com os Aliados e ter jogado com um pau de dois bicos, o coração nas Potências do Eixo, a cabeça na geografia atlântica. Era preciso poupar o cais e o apeadeiro chamados Portugal. Arlequim que serve a dois amos, eis a essência da nossa alma. E Vocelências que me desculpem, que já vou saindo desta crónica de cachaço rente ao chão e pela porta de serviço. Sem ofensa.”
Clara Ferreira Alves
( Com a devida vénia.)

mardi 3 septembre 2013

PARTIDA PARA MOÇAMBIQUE


As amarras se desprendiam
O barco partia
No cais,
Grossas lágrimas se vertiam

Lenços a abanar
Gentes com dor
Lançam gemidos
Sempre a soluçar

Para que tudo isto,
Pergunto eu?
Ninguém responde...
Partes para lutar.

O convés esta cheio de marujos
Que jogando...
E assim se distraindo
E, sem saber porquê
Se vão partindo

Gaivotas esvoaçam
Os fuzos no porão,
As mãos entrelaçam.

O paquete
As aguas vai rasgando
E, do destino
Os mancebos
Se vão aproximando.

Perto do cais,
Daquelas terras
Que, tão diferentes são
Porque desembarcamos?

Pergunta sem reposta!
E todos pensam
Será que
E para defendermos
Este chão?!

Fernando S. Leitão.






mardi 16 juillet 2013

GUERRA EM MOÇAMBIQUE. (Operação Planalto).




A primeira mina antipessoal em Moçambique rebenta no dia 14 de Junho de 1965, na zona de Cobué, distrito do Niassa. Esta região de resto, há-de ficar conhecida entre os combatentes portugueses como o estado de minas gerais. Que o diga o alferes  António gomes, sapador do Bat. de Cac 598. Em dois anos de comissão, detectou 560 minas. As companhias que actuavam no Niassa temiam sobretudo as minas antipessoais e anticarro. As bermas da picada eram depósitos de sucata retorcida.
No planalto dos Macondes, vizinho distrito de Cabo Delgado as emboscadas eram o perigo que mais se receava. O comandante-chefe de Moçambique, general Carrasco, lança nesta região a primeira grande operação militar em Moçambique, a Operação Águia entre 2 de Julho e 6 da Setembro. Participam o Batalhão de Caçadores 588, o B. Caç. De Nampula, o B. Caç. 729 e uma bateria de Artilharia.

(In Os anos da guerra.) Com a devida vénia.
A operação executada entre os rios Rovuma, na fronteira com a Tanzânia, e Messalo, tem como principal objectivo esmagar a guerrilha do Planalto dos Macondes. A ordem de operação manda “ desenvolver uma actividade destinada simultaneamente a exercer uma acção de presença junto das populações, destruir instalações  caracteristicamente terroristas, furtando assim aos bandos inimigos todo o apoio por parte das populações comprometidas ou não”.
O dispositivo militar em Cabo Delgado estava centrado em Mueda. Foi a partir desta zona, no coração do Planalto dos Macondes , que a operação se desenvolveu.
Dez mortos.
As forças portuguesas encontraram sérias dificuldades desde o inicio da ofensiva. Foram surpreendidas, segundo o relatório da operação, pelo “elevado numero de emboscadas e de acções de flagelação”. Nos primeiros dias as acções de guerrilha fazem quatro mortos e 18 feridos .
A Força aérea entra em acção no dia 8 de Julho e descarrega bombas sobre Muatide. Nem assim os guerrilheiros abrandam. Entre os dias 14 e 30 de Julho, as emboscadas sucedem-se um pouco por toda a zona da operação. Tombam em combate mais seis militares portugueses e são evacuados com ferimentos graves.
(In Os anos da guerra.) Com a devida vénia.
As noticias que chegam ao quartel-general em Lourenço-Marques, não são nada animadoras. Os relatórios enviados pelo comando da operação dão conta de”um inimigo numeroso, fortemente  mentalizado, bem armado que se habituara a actuar com relativo à-vontade na zona”.  Ao contrario do que planeara o comandante-chefe general João Carrasco, já não era possível desalojar os guerrilheiros do Planalto dos Macondes. Os portugueses tinham perdido a batalha da conquista da população que prestava o inestimável apoio de que a guerrilha tanto necessitava : o povo do planalto era para os guerrilheiros como agua para o peixe.
A partir do final de Julho, a Operação Águia foi perdendo de intensidade. As unidades instalam aquartelamentos e passam a fazer batidas, até que a operação é dada como terminada em 6 de Setembro. Os resultados finais são modestos em comparação com os objectivos inicialmente pretendidos. Já então o Planalto dos Macondes é uma das mais duras zonas de toda a Guerra Colonial: os guerrilheiros são numerosos, estão bem armados e dispõem de bases importantes.

(in as grandes operações da guerra colonial).

vendredi 28 juin 2013

FADO CHECA. (ADEUS COBUÉ E NIASSA)




Benvindo checa[1]
A esta guerra que te espera
Não venhas triste
A guerra é boa
Só fazes cera.

Vais ter saudades
De mulheres brancas
Ai que tormento
Aqui há pretas
Mas tem cuidado
 Com os resquentamentos

Checa danado
Desta guerra muito lixada
Não chores o desgraçado
Não vale a pena chorar

Checa bem-vindo
Chegas-te e agora eu já vou indo
Afinal mal encavacado
(Foto net).
Que vieste  cá fazer?
Tu és um checa
Vieste para me render.

(1) Apelido aplicado aos militares recentemente chegados da Metrópole.
Em Angola, éramos maçaricos.

Meu irmao Fernando propos-me estas quadras sem precisar o nome do autor.









vendredi 21 juin 2013

METÂNGULA.



Fernando S. Leitão, ou seja o meu irmão, pertenceu
à Companhia de Fuzileiros N° 4, prestou serviço
em Moçambique nomeadamente em Metângula,
Cobué e Machava. 1968/1970.

Adeus Metângula, adeus comissão,
Já vou p’ra cidade
Até me da vontade
De me atirar p’ro chão
Deixei o farol, que o control regula
Vou pelo caminho
Dizendo baixinho
Adeus Metangula.

Adeus Cobué e Niassa,
Onde tanta fome se passa
E dos bailes ao luar
Onde o fado já morou
Adeus o “turras” banais
A mim não me lixais mais
A guerra para mim passou!

Adeus Metângula, adeus comissão,
Já vou para a cidade
Até me da vontade
De me atirar p’ro chão
Deixei o farol, que o tempo regula
Vou pelo caminho
Dizendo baixinho
Adeus Metângula!!!

Fernando S. Leitão.
A prova de que o inimigo estava bem armado.

samedi 25 mai 2013

JA QUE VIERAM ATE AQUI...




Naquela manha pardacenta de 7 de Janeiro de 1972, deambulávamos pelo cais aguardando a hora de embarque, quando vi o Com. da minha Comp. Aproximar-se do segundo Com. de Bat. Segredando-lhe algo que não entendi. Já a resposta do Major mais sagaz, foi clara , sem ambiguidades: Já que vieram até aqui...

Nos deambulavamos pelo Cais.
Foto extraida do blogue du nosso Bat.
(com a devida vénia)
Compreendi então o teor da intervenção do Capitão: Vendo-nos em liberdade, temia que aproveitássemos a deixa para dar o fora, mas para onde? Na “minha” Beira mais que interior, nunca ouvi falar de exílio politico, quanto aos meus prezados colegas que andaram com os livros debaixo do braço até ao serviço militar, não sei se por medo ou por outra razão,  mas era assunto tabu.
Também não fazia parte da nossa cultura fugir. Vezes sem conta durante a minha curta escolaridade entoamos “Os Lusitos” , quantas vezes levava para o recreio o “meu” livro de Educação Moral e Cívica, e todo orgulhoso, (nem todos tinham um livro assim), “convidava” alguns colegas e, sentados no chão de uma espécie de curral, adjacente à moradia que servia de escola, cantávamos todos os Hinos  e mais alguns, e quando nos preparávamos para dar tudo à Pátria, temia o nosso Capitão, que “déssemos o fora”. Não, meu Capitão, nao foi para isso que fomos embalados por todos aqueles Hinos.
Hino da Mocidade Portuguesa.
Letra de Mario Beirao
Melodia de Rui Correia Leite.

Embalados que fomos, por todas estas
lições de Patriotismo e orgulho,
temia o nosso Capitão que
desertássemos?!
Pairava ainda no ar o drama dos Nove emigrantes/que dos seus lares distantes/P’ra  França queriam seguir/ Foi então em  Montalegre /Que a guarda os persegue/ Não os deixando fugir/ Um tiro foi disparado/Sendo António Chança alvejado/ Por uma bala certeira/ Também ferido de morte/ Teve assim a mesma sorte/ O Manuel de Oliveira.
Estas a ver Zé Oliveira, o que nos podia acontecer?!  Nos iríamos p’ra guerra como nos ensinava o nosso livro de leitura: (Se um dia a Pátria vos pedir auxilio, dai-lhe tudo: sangue e vida, meus Portugueses pequeninos).
Vem dai Zé; digamos a essa “pátria” que merecemos melhor tratamento que aquela esmola que nos querem dar. Tu que como eu sais-te da “escola” aos dez anos para trabalhar no campo, enquanto não tínhamos para quebrar rochedos com uma marreta de sete quilos, digamos a essa gente que estão errados.
A PATRIA HONRAI, QUE A PATRIA VOS CONTEMPLA!
NOS HONRAMOS A PATRIA, OXALA ELA NOS CONTEMPLE.
A.L.

vendredi 24 mai 2013

(PARA OS CRITICOS) R. MUITO PARA ELES.





Fins de 1974, no extremo sul de Angola, a nossa comissão arrastava-se penosamente quando fui testemunha de uma cena, algo insólita.
Estava eu em companhia de um colega que devendo ser transferido, solicitou a secretaria, a fim de que lhe fornecessem algumas esferográficas ao que a dita acedeu, evidentemente e quando o “estafeta” lhe trouxe o referido material, exclama o meu prezado camarada:
Podem muito bem dar-me isso tudo,( r.) muito para eles.
Fiquei atónito, mas mantive o silencio, visto o fascismo militar, ser pior que o outro. Se mantive o silencio, não esqueci e como fui a única testemunha da cena, seria pena levar o segredo comigo para a sepultura.
Para que não haja ambiguidades convém esclarecer que por “eles” se entendia o pessoal da secretaria, mas o pronome pessoal devia ser posto no singular e certamente em maiúsculas: “ELE”, porque se fomos lesados, só ELE  podia beneficiar do que quer que fosse, todavia falemos no condicional por prudência. 
Fazendo uma retrospectiva, vejamos:  Em Ambrizete, ou seja onde iniciamos  a comissão, havia uma riqueza incomensurável na imensidão Oceânica, mas não possuíamos frota pesqueira através da qual pudessem ser desviados uns tantos carapaus ou sardinhas. Nas cercanias  de Nambuangongo  havia  muito café, mas não éramos proprietários  de nenhuma fazenda ou roça que proporcionasse o desvio de uns grãozinhos.  Em pereira d’Eça nem mandioca havia, consequentemente não consigo desvendar como alguém poderia lesar-nos.
Mas ... Se o nosso Estimado camarada declarou ter (r) para alguém sem que ninguém o interrogasse ou torturasse,  algo de misterioso subsiste.
Pode parecer mesquinho, recordar estes factos quatro décadas depois, mas é sobretudo confrangedor constatar que como se a guerra não bastasse, haver alguém capaz de manipular um colega nosso, a fim de que este nos lesasse. Com (r) ou sem eles algo aconteceu. Convém que se saiba que a guerra não era só entre brancos e negros, havia outra guerra que emanava do ar condicionado e nos condenava a certa miséria.
Se os críticos o desejarem, posso publicar aquela estoria que começa assim: Você agora, não é vagomestre, você agora é sapador.

A.L.

mercredi 1 mai 2013

DIÊN BIÊN PHU. (EXCERTOS).



Foto net.
“Apos 50 dias de duros combates, na noite de 1 de Maio, começa a ultima fase da batalha: Dia 6 de Maio a ultima colina, Eliana 1 cai.  Dia  7 os   Franceses fazem explodir os paióis de munições e deitam fora as armas. As 17h30, o reduto francês é invadido. A batalha de Dien Bien Phu, terá feito 3.000 mortos, 4.000 feridos, e 10.000 prisioneiros entre os Franceses, dos quais apenas um terço regressaria dos cativeiros. Do lado Vietnamita, as baixas  foram avaliadas entre 20.000 e 30.000 . Oito semanas mais tarde, a conferencia de Genebra concluiria pela partilha provisória do pais.
As Forças Armadas Francesas abandonam definitivamente o Norte do Vietname em 1955, e o Sul um ano mais tarde. 
A MARCHA DA MORTE E O TERRIVEL PERIODO DE CATIVEIRO.

Diên Biên Phu. Fim do dominio
Francês na Indochina.

Foto net.
A batalha de Diên Biên Phu foi uma autentica carnificina. Depois de termos resistido a vários ataques, rendemo-nos no dia 7 de Maio de 1954 à tarde. Destruímos todo o nosso material. Seguidamente os primeiros soldados Vietnamitas invadiram o nosso acampamento transformado num amontoado de lama, cadáveres e armas.
Os Vietnamitas agruparam-nos e caminhamos uma dezena de quilómetros. Fizemos uma pausa e fomos obrigados a tirar as botas a fim de evitar qualquer tentativa de evasão.
A marcha da morte começou  em 8 de Maio cerca das 17h30. Aquilo representava cerca de setecentos quilómetros  a percorrer par integrar os cativeiros. Chegados ai, os nossos trabalhos consistiam essencialmente em abrir buracos para enterrar os colegas. Sem força par cavar profundamente, cinquenta centímetros chegavam. Nos embrulhávamos os corpos num pedaço de pára-quedas e transportávamo-los até à “sepultura”. Por vezes alguns morriam de cansaço, enquanto abriam as covas.
Em Genebra continuavam as negociações e o Presidente do Conselho, desejava conclui-las no prazo de um mês e nao teria sido evocado o futuro de milhares de soldados que recusavam entregar-se ao inimigo. a França teria fechado os olhos e quando o cessar-fogo foi assinado ela podia ter perguntado: Em Diên Biên Phu vocês capturaram 11.721 membros das nossas Forças Armadas. Entregaram-nos 3.290. Faltam 7.801. Que é feito deles?

(Fontes: Les 170 jours de Dien Bien phu, Mensonges sur la guerre d'Indochine, Convoi 42, etc.) Com a devida venia. 

vendredi 8 février 2013

RAMALHO EANES.



Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si.
O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber.
Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira.
O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.
Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros.
Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro. Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu- se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados.
RAMALHO EANES:
UM HOMEM BOM
!
As pessoas de bem logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social.
Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não, não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a.
Mas pedi-la, não. Nunca!»
O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.
“A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável “preservar alguns dos valores de outrora, das utopias de outrora”.Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta- acrescentando os outros.
“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará, “fora dela. Reagi como tímido, liderando”. O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos) ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida, pervertida ética.
Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes.
Fernando Dacosta
Nota: Já escrevi algures no Expresso um comentário sobre Ramalho Eanes, mas sinto-me na obrigação de dizer algo mais e que me foi contado por mais que uma pessoa.
Disseram-me que perante as dificuldades da Presidência teve de vender uma casa de férias na Costa de Caparica e ainda que chegou a mandar virar dois fatos, razão pela qual um empresário do Norte lhe ofereceu tecido para dois. Quando necessitava de um conselho convidava as pessoas para depois do jantar, aos quais era servido um chá por não haver verba para o jantar. O policia de guarda em vez de estar na rua de plantão ao frio e chuva mandou colocá-lo no átrio e arranjou uma cadeira para ele não estar de pé. Consta que também lhe ofereceram Ações da SLN-BPN, mas recusou.

mercredi 9 janvier 2013

Dallas, ton univers impitoyable!

Dallas, ton univers impitoyable,
Dallas, malheur à celui qui n'a pas compris,
Dallas, das des conditions abomibables,
Dallas, beaucoup y ont laissé la vie.


Pobrezito, vai-te embora, tu metes do.