Cansado de criticar
o menu que nos era servido durante a guerra em Angola, decidi um dia
desbloquear cinco escudos do meu magro orçamento, para comprar um ananás.
Estando nos em zona pacifica, entravam diariamente no quartel, dois miúdos de
cor que por vezes eram “utilizados” como moços de recados.
Chamei um deles, dei-lhe
dez escudos para que fosse à cidade comprar-me o tal fruto açucarado. Sabendo
de antemão que o ananás custava cinco escudos, esperava logicamente receber
outro tanto de troco, mas qual não foi a minha surpresa quando o “nosso”
pretinho me estende uma mão com o ananás, outra com uma laranja servindo de
troco.
Tive vontade de o
acusar de ter gasto o troco em laranjas e de ter reservado uma para mim, mas
pareceu-me tão sincero que me comoveu, e disse-lhe: come tu a laranja, e deste
modo o fruto que devia ter custado cinco mil reis, custou-me dez.
Não disse nada a
ninguém, mas um dia um colega envia um dos miúdos comprar um barra de sabão
clarim, e quando verifica o conteúdo da embalagem, constata que o sabão foi
cortado ao meio e a embalagem colada com fita adesiva. Ai não havia
ambiguidades o “moço” não comia o sabão e o meu camarada envia-o acto continuo reclamar
à mulher do sabão, (não soube se era a mesma da fruta), que o sabão era para um
tropa, e que queria uma barra completa. Evidentemente que a “ordem” foi
executada, e “conclui” então que
algo de estranho se passou com o meu ananás.
Acontecia isto num
pais que possuía reservas de ouro de entre as maiores do mundo, (palavras de
salazaristas), e que exercia a sua soberania num dos países mais ricos (ou o
mais rico de toda a África). O preço de uma laranja ou de um banana era de
cinco tostões, quando compradas a retalho, por conseguinte por grosso não
ultrapassaria os 3 ou 4 . Ouso perguntar: Não havia naquele orçamento de Estado
ou da Comp. margem de manobra para nos atribuírem meia-duzia de tostões
quotidianamente a fim de termos como na Metrópole um fruto ao jantar, e um
copito de vinho ao almoço?
Estávamos nos
prontos a morrer e ser por lá
abandonados como se de cães se tratasse, e éramos assim tratados. Há
quem diga que estava tudo muito bem, e ate há quem chore o regime fascista; os
Norte-Coreanos também choram a morte do “pai” presidente. Os comunistas têm a
“coragem” de se dizer ateus, os fascistas diziam-se cristãos. Que se juntem
todos, há sempre quem pugne por mais paz e justiça.
Antonio Leitão.