Quando chegávamos à guerra, recebíamos, como é natural uma espingarda, e com ela, uma centena de cartuchos que conservávamos em permanência quase sempre,( a menos que houvesse um armeiro), dependurados ao fundo da cama. Quando íamos para o exterior, que por vezes se confundia com o interior, podíamos completar o nosso “arsenal” com duas granadas que devíamos solicitar na arrecadação.
Convém recordar que se para as munições necessitávamos de cartucheiras, também para as granadas havia uma espécie de bolsas de lona, a que se chamava porta-granadas.
Tudo corria na maior das normalidades até que um dia o Com. de Comp. decidiu que o nosso pelotão na necessitava de granadas, por conseguinte de porta-granadas, e estes deviam ser atribuídos não sei a quem.
É do conhecimento
de todos que aquilo fazia um barulho tremendo. Quem sabe poderíamos nos
confundi-las com estalinhos do S. João?! Todo o cuidado era pouco no entender
dos nossos Comandantes. Imagine-se que ripostávamos com granadas a um ataque
qualquer; podia passar por ali uma manada de elefantes; imaginemos aqueles elefantezinhos tão queridos
correrem para junto da mãe: o mama olhe que aqueles homens puseram-me medo.
Passaram-se
muitos meses antes que,
cabisbaixos, pudéssemos voltar à arrecadação de material de guerra, e como se
pedíssemos um grande favor: Eh pá, empresta-me duas granadas; evidentemente que desta feita já podíamos dispor do tal
pedaço de lona.
Note-se na zona
onde estávamos o odor de pólvora era mais intenso, e a bicharada era suposta
manter-se a certa distancia. A guerra reservava-nos destas surpresas.
António S. Leitão.