É FILHO DE BOA GENTE!A l'attention de mes lecteurs :

GUERRA COLONIAL EM ANGOLA. DO ZAIRE AU CUNENE, PASSANDO PELOS DEMBOS.
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OBRIGADO PELA SUA VISITA.

QUEM NAO SE SENTE, NAO É FILHO DE BOA GENTE!


Se servistes a Patria que vos foi ingrata, vos fizestes o que devieis, e ela o que costuma.
Padre Antonio Vieira.

A nação é de todos. a nação tem de ser igual para todos. Se nao é igual para todos, é que os dirigentes que se chamam Estado, se tornaram quadrilha.
Aquilino Ribeiro. In quando os lobos uivam.

"patria", confiscaste-me os meus melhores três anos. Diz-me agora o que posso confiscar-te.

vendredi 29 juin 2012

AS LUZES DE NAMBUANGONGO




Que Manuel Alegre me mande prender se quiser, mas não resisto à tentação de inserir aqui um dos poemas deixados (provavelmente por ele) em Nambuangongo, e que secretamente circulavam entre certas mãos; quanto a mim, só aceitei copia-los já no fim da comissão, tal era o medo que alguém bufasse junto do Capitão.

Brilham as luzes de Nambuangongo
Que de longe parecem perto e perto
Parecem longe, porque são assim as luzes
nos olhos dos soldados quando à noite
vão de Quipedro a Nambuangongo.

Não vás pensar que são as luzes da tua aldeia.
Não há lugar em Nambuangongo
Para a ternura da tua aldeia.
Brilham na noite camarada, mas são enganos
Não vás pensar que são as luzes da tua aldeia.

Amigo, escuta: se acontecer
Teres saudades fecha os olhos
Não queiras ver as luzes que são longe e perto
E perto e longe não queiras ver
Amigo as luzes de Nambuangongo.

Eu sei que custa. Dentro de ti
Há outras luzes que não são as luzes de Nambuangongo.
E a bala espreita, eu sei que custa
Posso ser eu podes ser tu
Entre Quipedro e Nambuangongo.

E há outras luzes, caminhos de outras aldeias.
Essas porem, não são as luzes que nos esperam.
E não veras rostos amados. E não terás
Um fogo ardendo para ti que vens de longe.
Ninguém lá onde brilham as luzes para ninguém.

Brilham na noite, camarada, mas são enganos
Ai são enganos essas luzes perto e longe.
Dentro de ti há uma candeia, E não veras
rostos amados. Fecha os olhos camarada
só são as luzes de Nambuangongo.

Morrer podemos. Mas não chorar. Lágrimas?
Só essas lágrimas que ao longe brilham
Lágrimas luzes de Nambuangongo choram por nos
Brilham por nos, mas são enganos camarada
Não são as luzes da tua aldeia.

Manuel Alegre.

O que custava, não era só a ausência de rostos amados; não era só recusarem-nos um pedaço de pão para comer com a ração de combate; não era só a incerteza de regressarmos inteiros; era também a soberba, o cinismo de certos senhores que tendo feito da guerra profissão, nos faziam a vida negra.

A.L.

samedi 16 juin 2012

O SENTINELA II




La au fundo, estava o mar, (*)
Por diversas vezes estive decidido a rasgar esta foto, porque  convenhamos que faço mesmo figura de parvo.  Não importa a figura que faço o que era, ou o que sou ; o importante é saber o porquê da minha  presença naquele lugar.
mas o inimigo nao tinha lanchas, (*)
Estando eu com a arma na mão, junto ao arame farpado, significa que estava de sentinela, e lá ao fundo estava o mar.  Acontecia porem que o inimigo não vinha pelo mar; o IN. (1) não dispunha de lanchas de desembarque, de fragatas, de submarinos, e muito menos de porta-aviões. Que o digam os nossos irmãos de armas, os ex-fuzileiros de S. A. Do Zaire, que, (diga-se de passagem nos testemunharam uma estima enorme, aquando da nossa breve estadia naquela vila.

fragatas, (*)
Se ao fundo se vê o mar, não se nota que por de traz de mim, estava o refeitório e a cozinha e era ai que residia o perigo; não que nos roubassem as nossas loiças de cristal; não que alguém tentasse roubar-nos o nosso caviar. O perigo era personalizado pelas crianças Angolanas, (pretas evidentemente), que esfomeadas, vinham na hora  da refeição com um saco de plástico, no interior do qual levavam o que lhes dessem, inclusive os restos da sopa. Vi muito mendigo na vida, mas levar caldo num saco de plástico, só na Angola milionária que me levou aqueles que deviam ter sido, os meus melhores três anos. Foi então decidido que os restos do nosso rancho não mais serviriam para matar a fome aos pretinhos, mas destinar-se-iam a engordar porcos que comprados pequenos, transitariam depois de crescidos para o rancho da Companhia.
submarinos, (*)
Ignoro se alguém recordou ao Capitão, que era uma obra de Misericórdia dar de comer a quem tem fome, todavia era tempo perdido, não éramos só nos os soldados que devíamos em permanência “meter o rabo entre as pernas”: ai daquele que ultrapassasse os “limites”.
nem porta-avioes. (*)
Exceptuando o sadismo, a malvadez  que consistia em privar os miúdos dos nossos restos, quem sabe se a decisão ate poderia ser considerada normal; quem sabe se era a única possibilidade de saborearmos uns bons presuntos, mas qual presunto qual carapuça. No caminho que levava os suínos da pocilga para a cozinha havia algo de misterioso e o mistério nunca foi desvendado. Segundo informações da época, os porcos eram vendidos à Companhia. Mas... quem comprava, quem vendia? Eis o enigma e deste modo, lá  estava eu de sentinela armado em parvo, naquele domingo junto à praia, (faltava-me a cabana do José Cid), a fim de dissuadir os esfomeados de se aproximarem da nossa cozinha.

(1) inimigo.
(*) fotos net. Com e devida vénia.